Um nada sobre tudo ou um tudo sobre nada?

Para mim, o melhor sítio para pensar é num comboio. Mais propriamente, num dia de chuva, numa carruagem vazia de um  comboio madrugador. A chuva bate levemente na janela da minha carruagem. E então, mil e um pensamentos disparam na minha mente como balas numa zona de guerra e surgem na minha cabeça. "É agora", penso eu para os meus botões. Pego na minha mochila, tiro um caderno e uma caneta e começo a escrever. A escrever sobre tudo, a escrever sobre nada, lá vou eu nesta viagem para casa. Começo a escrever sobre o exame que acabei de fazer. Que se dane o Mills, o Watlzlawick e essa companhia toda. Se tudo correr bem , nunca mais oiço falar nesses senhores.

Calma! O comboio finalmente arrancou. Arranca também uma nova ideia. Sobre o quê? Futebol? Amigos? Não! Estou farto desses temas habituais de reflexão. Levanto a cabeça. "Desculpe, posso sentar-me?", diz-me uma senhora que acaba de entrar no comboio. Limito a minha resposta a um simples "sim" e volto à minha escrita. Mas esta senhora desperta a minha imaginação.
Deve ter os seus 40/50 anos. De cabelo castanho, óculos cinzentos para auxiliar a visão dos seus pequenos olhos castanhos. É ligeiramente mais baixa do que eu, mas o seu corpo já não consegue esconder os danos do passar dos anos. A sua cara revela o cansaço de mais um monótono dia e a ansiedade em, finalmente, chegar ao conforto da sua casa e família. Suponho que tenha dois filhos já crescidos. Se calhar, um deles é capaz de ter a minha idade. Se calhar, até sou capaz de conhecer o seu suposto filho. Não sei. Só sei que o mundo é pequeno. Porra, já estou em Nine! Vou ter de correr se quiser apanhar o comboio. Arruma a escrita e dá corda aos sapatinhos!

Ufa, foi por pouco. Cá estou eu noutro comboio. Desta vez, sem ninguém sentado à minha frente para servir a minha imaginação. Pelo menos, tenho papel e caneta para tornar esta viagem mais rápida.
Tenho pena de não ter podido ficar em Braga. Notei a desilusão dos meus amigos quando lhes disse que tinha de ir embora. Nem cinco minutos estive com eles. Mas tinha de ser. Viana chama por mim. Pode ser uma cidade deserta, sem vida boémia e sem almas vivas nas ruas durante a escuridão da noite, mas é a minha cidade e eu tenho orgulho em ser vianense. Por vezes, penso que há lobisomens ou vampiros à solta nas ruas vianenses, e que é por isso que as pessoas desaparecem depois das 20 horas.

Já estou em Barcelos. Tenho muitos conhecidos em Barcelos, mas amigos? Nem tantos. O facto de ser um ferveroso adepto da Juventude de Viana impede-me de manter boas relações com pessoas da terra do OCB. Brincadeira! Mas não se esqueçam: aconteça o que acontecer, OCB é merda até morrer!

E, de repente, dou por mim a olhar para o vazio. Fiquei sem ideias, mas continuo a escrever. Como já disse antes, escrevo sobre tudo e escrevo sobre nada. Tudo seja, nada seja e assim seja. Este é o resultado de ficar sem bateria no comboio: duas páginas de um caderno meio amarrotado ocupadas com palavras sobre tudo e sobre nada que se unem para formar um texto para um blogue que meia dúzia de pessoas de gosta de ler.

Graças a Deus, eu não escrevo para os outros. Escrevo para mim. Escrevo porque gosto de escrever. Escrevo aquilo que quero e bem me apetece escrever. Quem gostar daquilo que escrevo, porreiro. Quem não gostar, paciência. Não faço isto para agradar o mundo, faço isto porque gosto. E enquanto tiver vontade e disponibilidade irei a continuar a fazê-lo.

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